As ruas
formadas por rios são uma realidade para centenas de comunidades paraenses,
como as que vivem do extrativismo na ilha do Marajó. É desse cenário de várzeas
que os extrativistas extraem a maior parte do açaí produzido no Pará. Muaná, um
dos 16 municípios do arquipélago, é o quarto maior produtor de açaí do Estado,
segundo o IBGE. É lá que vai entrar em funcionamento a indústria de
beneficiamento de açaí que está em construção pelo governo do Estado através do
programa Pará Rural, com financiamento do Banco Mundial. A previsão é de que a
fábrica entre em operação em 120 dias, com capacidade para processar até oito
toneladas de polpa de açaí por dia.
O açaí
que será processado em Muaná já vai sair da fábrica pasteurizado e pronto para
ser comercializado para Belém e até para outros Estados do Brasil. Com o
beneficiamento, os agricultores que trabalham com o extrativismo do açaí
poderão vender sua produção diretamente para a fábrica através das cooperativas
e, na condição de cooperados, terão uma rentabilidade bem maior em relação aos
preços praticados pelos atravessadores, que vão buscar o açaí de Muaná para
municípios como Abaetetuba e até mesmo para Ponta de Pedras, município que
aparece em segundo lugar no ranking de produção de açaí no Pará.
A
Cooperativa de Agroextrativistas de Muaná – Copmar Marajó, é uma das que estão
sendo beneficiadas pelo programa Pará Rural. A Copmar envolve 11 associações de
produtores e atende a 200 famílias de cooperados. Cada produtor colhe em média
30 latas de açaí por dia na alta safra. No comércio com o atravessador, os
produtores vendem a lata com 14 quilos ao preço médio de R$ 30 a 35,00, mas na
entressafra o preço fica entre R$ 40 e R$ 45.
Para
Muaná a previsão de investimento pelo Pará Rural através da Copmar é de R$ 1,4
milhões, dos quais já foram repassados R$ 500 mil, sendo R$ 90 mil usados para
a compra de um barco, R$ 45 mil para aquisição da câmara fria que vai conservar
o açaí, além das obras da fábrica e da própria sede da cooperativa. Outros R$
100 mil foi repassado diretamente aos produtores para aplicar no manejo de
açaí, que mistura áreas nativas com áreas plantadas, por isso as obras incluem
também um viveiro de mudas de açaí.
De acordo
com Antonio Oliveira, gerente executivo do Pará Rural, Muaná é apenas um
exemplo do que está ocorrendo nos 47 projetos apoiados pelo Pará Rural em todo
o Estado. 'Em Muaná nossa expectativa é que os produtores melhorem sua renda,
saindo da situação de pobreza e gerando desenvolvimento para a região, já que a
fábrica deverá atender as comunidades produtores de todo aquele entorno',
afirma.
O produtor Edimar Batista Costa, um dos
cooperados da Copmar, também vive esse momento de expectativa. Ele é conhecido
na área do rio Atuá como 'agricultor empreendedor' porque calcula todos os seus
custos na ponta do lápis, e espera melhorar sua renda fornecendo matéria prima
para a fábrica. 'Eu calculo quanto gasto com frete para o atravessador que vem
buscar o açaí de barco na minha porta, e todas as outras despesas que tenho com
a colheita e
replantio das novas mudas. Tenho esperança que, fornecendo direto para a
fábrica, eu consiga cobrir essas despesas e ainda ter um rendimento maior com a
minha produção', afirma
Fonte:O liberal